X Curto e Grosso

Os relatos da labuta de Alexandre inspiram X.
Depois de cinco anos de silêncio sentido, o rapper afiou as rimas, mesclou bases de samba, percussão, berimbaus, chorinho, black music. Trincou o vinil. O clima é da velha escola do hip hop (old scholl). Curto e grosso tem produção musical de DJ Raffa, participações dos DJs Marcelinho e Tydoz. É disco diversificado, cada faixa é uma faixa. X está melhor do que nunca. Canta com vigor, com convicção. E o mais importante, ele mesmo revela: “Estou mais agressivo que antes”. Independente, com tiragem de 1000 cópias, patrocínio do Fundo de Arte e da Cultura, o disco metralha o preconceito racial, a injustiça social, os desmandos dos políticos, o esquecimento da Ceilândia. “Não é por que o álbum teve dinheiro do governo que vou gravar Ilariê.”

Ao contrário, “o nervo se contrai” na voz potente de X. Sobra pouca coisa em pé. X diz com propriedade o que pensa, com rimas trabalhadas. “Pago uma tevê por assinatura para assistir aos documentários ao lado do meu filho, procuro ler, aprimorar os estudos.” As palavras mais cabulosas são desvendadas com dicionário, sempre posto ao alcance. Quer devorar as informações. Não à toa, fatos que foram notícia ilustram as letras. Morte do Papa, queda de presidente, censura aos meios de comunicação entram no meio das rimas. “Está muito ruim o nível do hip hop feito hoje, no DF. As letras estão pobres; algumas, sem conteúdo . É preciso estudar.”

O rapper quer dar o exemplo. Tem consciência do poder de suas palavras. Sabe que há uma galera que se educa ouvindo hip hop. Não quer falar de honestidade, de um mundo construído fora da marginalidade, das drogas, da esperança semeada pela educação. Quer que o filho acredite na coerência entre as letras de X e a vida cotidiana de Alexandre. Talvez, por isso, alimente, sem conflitos, sonhos tão distintos. Construir carreira no serviço público e espalhar Brasil afora as rimas que denunciam e divertem. Na voz de X, tudo é compatível.

Dificilmente haverá show do disco "Curto e Grosso " , o novo trablaho do rappper brasiliense X, por conta dos recursos de produção. Mas X pretende fazer uma festa de lançamento no Plano Piloto, com muita black music nas picapes. Quer também gravar videoclipe da faixa d" Mais Agressivo que Antes", que tem chance de ser dirigido pelo cineasta José Eduardo Belmonte. A música, aliás, toca em rádios comunitárias e na Cultura FM . Curto e grosso, o disco, está à venda em lojas especializadas em hip hop e na rede 2001. “Calculo que só restam umas 200 cópias”, revela X.