segunda-feira, dezembro 08, 2008

Caros artivistas do Brasil e do mundo
Voces estao informados de um dos resultados da Bienal Internacional de Sao
Paulo que se encerrou hoje ? Uma mulher autodenominada pixadora estah presa,
ameaçada de permanecer encarcerada por até tres anos. Caroline Sustos foi
uma das integrantes do grupo de pixadores que invadiu a mostra. As paredes
foram pixadas e repintadas e a mostra nao foi prejudicada.
Independente da discussao estética, se a pichaçao é ou nao arte, se se
justifica ou nao, a atuaçao deste grupo ao invadir o predio da Bienal com um
grupo de pixadores, foi também um ato expressivo, foi inequivocamente uma
manifestaçao cultural que poderia, deveria ser discutida, avaliada,
rejeitada e mesmo eventualmente contida. Que tenha como resultado a detençao
de uma mulher apresenta-se como lamentavel e inaceitavel para as
instituiçoes publicas de Sao Paulo.
Especialmente, a Bienal de Sao Paulo nao deve participar de um ato
repressivo que resulte na detençao de Caroline Sustos (como assina seus
autos de prisão) em suma, em mais uma pessoa encarcerada por motivos muito
discutiveis.
Pode-se sim considerar, ao contrario, que a proposta do curador Ivo Mesquita
em manter um andar da exposiçao vazio, para um exercicio de reflexao sobre
todas as Bienais do mundo, como afirmou, foi devidamente respondida por este
grupo de pixadores. Esta resposta representa uma pulsao de uma cidade !
A historia tem demonstrado que inumeras vezes os criticos, curadores e
historiadores equivocam-se diante de manifestaçoes artisticas inusitadas. A
Bienal de Sao Paulo teria muito a ganhar se o andar vazio tivesse sido, apos
esta invasao, voluntariamente oferecido aos pixadores e grafiteiros de Sao
Paulo que alias projetaram sua arte internacionalmente. O fato da pixaçao
nao ser validada e legitimada pode tambem representar uma ausencia de
reflexao de criticos e historiadores diante de um fenomeno contemporaneo que
escapa de nossos paradigmas habituais.
A abertura da Bienal teria sido um gesto inedito de reconhecimento por uma
instituiçao artistica, de uma forma expressiva que se espalhou por toda a
cidade e nao pode ser simplesmente ignorada. Uma discussao ampla e bem
informada sobre o fenomeno cultural da pixaçao é relevante desde que na
medida em que nao é validado enquanto expressao artistica pode ser
considerado como vandalismo e justificar repressao.
Diante de todo o exposto, proponho que seja organizado um protesto, seja
presencial seja virtual, por todos os meios possiveis, convocando artivistas
sejam brasileiros sejam internacionais no sentido de convocarmos nossas
energias para que esta mulher seja liberada o quanto antes.
Aqueles dentre nos que possam acessar jornalistas, advogados, promotores de
justiça, politicos, professores, estudantes, todos que puderem de algum modo
interferir favor reenviarem esta mensagem e solicitar solidariedade.
Aqueles que puderem traduzir este protesto para outras linguas e enviar para
grupos de discussao e instituiçoes estrangeiras favor engajarem-se o quanto
antes.
Divulguem este protesto, disseminem esta idéia para que Caroline seja
libertada o quanto antes e para que as instituiçoes artisticas e culturais
brasileiras nao se tornem cumplices neste cerceamento da liberdade e da
expressao.
Artur Matuck
Artista plastico, escritor e professor da Universidade de Sao Paulo

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